Dados e Sonhos.
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Histórico do Personagem

Ir para baixo

Histórico do Personagem Empty Histórico do Personagem

Mensagem  CharlieBrawJR Sex Jun 27, 2014 12:36 pm

Histórico do Personagem Profilepic_zps3692f4c9
Prólogo
Oz corria no meio da noite. Estava suado, cansado e ferido, mas sabia que não poderia descansar. A lua cheia iluminava o suficiente para que seus olhos de elfo conseguissem ver na noite, mas só para isso.
- Shhhh. – Ele falou para o bebe que carregava enrolado em seus braços. – Fique quieto, meu filho.
Sentia-se muito cansado, mas não podia parar. Ele sabia que ela estava dormindo, mas, assim que ela acordasse, iria sentir falta da criança e partiria atrás dele. Ele precisava colocar o máximo de distância antes que isso acontecesse.

.:I:.
Correndo pelas ruas de Telflamm, Alex mal sentia seus pés descalços no chão de pedra. Com dezessete anos, ele já havia feito isso inúmeras vezes e seus pés calejados eram bem resistentes. Com um salto, passou por cima da mesa de um mercador e, depois, passou por baixo de um cavalo e entrou em um beco.
- Onde ele está?! – Ele ouviu o grito de um dos guardas que tentaram persegui-lo. Alex agora estava escondido dentro de um baú e olhava, por um buraco, enquanto eles passavam.
- Eu vou sentir isso mais tarde. – Depois de alguns minutos escondido, Alex decidiu que seria seguro sair e estalou suas costas. Então alongou suas pernas, que haviam começado a sentir câimbras pela posição desconfortável. – Tudo isso por uma maçã? – Perguntou enquanto tirava dita fruta do bolso e, com sua adaga, começava a descascá-la. – A vida não está fácil para um ladrão honesto em Telflamm.
Saindo do beco e seguindo por outro caminho, ele caminhava se esforçando para ser apenas mais um na multidão. Isso era difícil para ele, se suas orelhas pontudas de meio elfo não fossem o suficiente para chamar atenção, seus cabelos alaranjados com listras negras com certeza fariam o truque. Ele puxou seu capuz.
– Ah, aqui está você. – Comentou quando Sombra, uma gata cinza, se aproximou dele, caminhando por cima de um muro mais ou menos na altura de seu ombro. Fez um carinho na cabeça da gata. – E o que temos aqui?
A gata estava segurando uma coxa de frango em sua boca e a entregou para o rapaz. – Muito obrigado. – Ele comentou, enquanto dava uma mordida. O focinho sujo de Sombra mostrava que ela há havia comido bastante. – Onde eu estaria sem você?
Caminhou por mais alguns minutos, até que entrou em outro beco e pulou o muro de uma casa abandonada. Era uma simples casa de madeira, com parte do teto derrubado, mas era uma casa, e ele gostava daquele lugar.
- Opa, cuidado com isso. – Alex segurou Gui antes que ele pudesse cair no chão. O garoto, de 10 anos, estava tentando escalar uma árvore e havia escorregado. – O que a Mama falou sobre subir em árvores?
- Ela disse que é perigoso. – Gui respondeu envergonhado. – E que eu só devia fazer isso com suverpisão.
- E supervisão. – Alex corrigiu. – E é isso mesmo.
- Mas eu quero ser que nem você! – O garoto exclamou. – Você sobe nas coisas, e você abre portas e trás comida pra gente! Você é demais!
- Não sou nada. – Alex respondeu. – Demais é saber ler e escrever e ser alguma coisa importante nessa vida. A Mama tem todo o trabalho para ensinar as coisas pra você. O que ela diria se descobrisse que você quer ser que nem eu?
- Mas... – O garoto parecia realmente envergonhado.
- Ei, vamos colocar um sorriso neste rosto, está bem? – Alex ofereceu metade da coxa de galinha que ele ainda não havia comido. – Pra você. Agora vá estudar.
Gui saiu correndo para dentro da casa com um sorriso no rosto.
Alex continuou andando até chegar na casa, sentia a grama do jardim entre seus dedos. Era uma sensação incrível.
- Olá Mama! – Ele exclamou uma vez que entrara na casa. Mama, uma mulher de trinta e poucos anos, com cabelos castanhos e olhos claros, não era propriamente a sua mãe. Ela era uma mulher bondosa da cidade que havia tomado Alex e outras crianças como suas. Ela trabalhava como costureira e fazia das tripas corações para ajuda-los no que pudesse.
- Olá Alex. – Ela falou, com um sorriso. – Você não se meteu em encrenca, de meteu?
- Claro que não, Mama. – O rapaz respondeu, coçando a cabeça. – Eu trouxe uma coisinha pra você. – Ele tirou uma pequena sacola com moedas e colocou em cima da mesa.
- Eu achei que você tinha dito que não se meteu em encrenca. – Ela respondeu, mas não parecia com raiva. – Você não tem jeito mesmo. Não sei por que eu ainda tento.
- Por que você me ama. – Alex deu um beijo na bochecha dela.
- Alex! – Lisa, com seis anos e cabelos dourados e olhos azuis, correu até Alex e pulou em cima dele, abraçando-o. – Você vai me levar, não vai?
- Levar? Onde? – O rapaz perguntou, sem entender.
- Para a praça! – Lisa respondeu. – Você prometeu!
- Prometi? – Alex perguntou, se fazendo de bobo.
- Prometeu sim. – Mama respondeu. – Eu me lembro.
- Mas eu estou tão cansando. – O rapaz resmungou.
- Você fez uma promessa Alex. – Mama falou.
- E um homem só é tão com quanto as promessas que ele cumpre. – Lisa terminou o velho ditado.
- Eu sei, eu sei. – Alex respondeu. – Vocês não precisavam dar uma do velho Bob pra cima de mim. – O velho Bob era o marido de Mama, que havia adotado Alex todos aqueles anos atrás. Ele havia falecido por causa de uma doença, mas Alex o lembrava como um homem bom e justo. – Você está pronta?

.:II:.
A praça Shemszarr estava bem movimentada. Diversos comerciantes e viajantes de diferentes cidades passavam por lá, a fim de vender e comprar bens ou, simplesmente conversar e trocar boatos sobre o mundo fora de Thesk.
Alex levou Lisa até um comerciante de animais. Dentro de sua tenda havia diferentes jaulas com toda variedade de animais de pequeno porte. A sua esquerda, Alex avistou uma espécie de lagarto que parecia ser capaz de mudar de cor para se adaptar ao seu ambiente. – Olha! Que fofo! – Lisa correu para uma jaula com alguns coelhos.
O rapaz parou e ficou observando o lagarto por alguns instantes. – Isso seria bem útil. – Comentou consigo mesmo.
- Ah, sim. – O dono da tenda se aproximou. – Imagino que seria. Ser capaz de mudar sua cor, dessa forma.
- Pois é. – Alex comentou. – Que bicho é esse?
- É um camaleão. – O homem respondeu. Ele parecia prestes a falar mais, quando uma comoção do lado de fora da tenda chamou a atenção dos dois.
- O que foi isso? – O rapaz perguntou, olhando para fora da tenda e vendo uma multidão se acumular em torno de algo.
- Os Filhos do Sol. – O vendedor respondeu, como se aquilo explicasse tudo. Ao notar que Alex não fazia a menor ideia do que ele estava falando, continuou: - É um grupo de viajantes que se dizem defender a honra e a justiça. – Explicou.
- Então acho que vou me manter bem longe deles. – Alex respondeu.
O vendedor sorriu. – Você é um rapaz esperto. – Disse. – Eles não são nada além de confusão, esses filhos do sol. Se metem onde não são chamados. Estão falando de ir até Rashemi caçar bruxas. Vão acabar sendo mortos. E causando a morte de qualquer um que se envolva com eles. Isso eu lhe garanto.
- Tenho certeza que sim. – Então, virando-se para Lisa. – Vamos lá! Já está ficando tarde!
Segurando a mão de Lisa para que ela não se perdesse, Alex começou a voltar para sua casa. Atravessou a multidão que cercava os filhos do Sol, tomando muito cuidado para não se aproximar muito. Em um momento, porém, a multidão se abriu e ele olhou direto para os Filhos do Sol.
Um deles vestia uma armadura branca com dourado e levava uma espada na cintura. Tinha cabelos castanhos encaracolados e estava gritando para quem quisesse ouvir: - Amanhã nós começaremos nossa marcha para Rashemen, para colocar um fim na velha Morgana e suas seguidoras. Quem quiser vir conosco é mais que bem vindo, nós aceitamos toda ajuda que pudermos conseguir.
Mas Alex não estava prestando atenção no homem, nem em suas palavras, ele estava prestando atenção no símbolo, um sol dourado, que se encontrava no meio de sua armadura.

.:III:.
Alex tivera aquele mesmo sonho quase todas as noites nas últimas três semanas. Parecia ser tão real que estava gravado em sua cabeça. Cada momento dele.
Ele estava deitado olhando para o céu estrelado. Olhou em volta e não sabia onde estava. Sabia que estava no pé de alguma montanha, mas, fora isso, não conhecia aquele lugar nem sabia como havia chegado ali.
Então avistou algo se movendo entre as pedras. Um gato branco. Tão branco que a luz da lua parecia refletir em seu pelo, dando-lhe uma espécie de brilho sobrenatural. – O que você está fazendo aqui, bichano? – Alex perguntou, fazendo um carinho em sua cabeça.
Com um miado, o gato se afastou, pulando em duas pedras e começando a subir pela montanha. Ele então parou, e olhou para Alex. Deu um novo miado, como se pedindo para segui-lo. Sem saber o que mais fazer, o meio-elfo pôs-se a escalar a montanha.

Depois de quase quinze minutos escalando, Alex e o gato chegaram ao que parecia ser uma caverna na parede da montanha. Não havia nenhuma tocha, mas os olhos do rapaz pareciam se adaptar para ver apenas com a luz da lua.
No fundo da caverna ele viu o vulto. Um homem vestindo uma armadura branca com detalhes dourados. A sombra encobria seu rosto, de modo que Alex não conseguia ver quem era, mas o símbolo de um sol dourado estava claro no meio de seu peito.
Você quer respostas? Eu tenho suas respostas. Uma voz de mulher, velha e rouca, soou na cabeça de Alex e o meio elfo acordou.

.:IV:.
Não foi difícil achar a estalagem onde os Filhos do Sol estavam passando a noite. Depois de voltar para casa e deixar Lisa em segurança, Alex saiu novamente, atrás deles.
A Porco Voador era uma bela estalagem localizada no setor nobre de Telflamm, um lugar que, normalmente, Alex nem sonharia em ter dinheiro para entrar. O salão principal estava pouco movimentado e o rapaz logo avistou os filhos do sol sentados em uma mesa no canto.
O homem de armadura estava lá, ouvindo outro homem, com um chapéu engraçado, tocando um bandolin e cantando. Havia também uma mulher, vestindo uma armadura de couro e com um arco nas costas e, por último, um anão vestindo uma armadura por baixo de mantos brancos e carregando uma maça na cintura.
Alex se aproximou da mesa e falou com o homem de armadura. – Eu quero me juntar a vocês.
O homem olhou para ele pela primeira vez e pareceu surpreso. – Oz? – Ele perguntou, antes de recuperar a compostura. – Não, claro que não. Desculpe, é que você me lembra de alguém que conheci há muito tempo. Como é o seu nome, rapaz?
- Meu nome é Alex. – O meio-elfo respondeu. – E eu quero me juntar a vocês.
- O pirralho não vai durar dois dias contra as bruxas. – Foi a mulher que respondeu. Ela não parecia ter muitos amigos.
- Não seja tão rápida em julgar, Falla. – O homem falou com ela e, então, virou-se para Alex. – Você é bom com essa faca?
Alex carregava sua adaga escondida dentro de suas vestes. Ele a escondia muito bem e ninguém nunca havia visto ela antes. Isso deixou-o impressionado.
Sem hesitar, o meio-elfo tirou sua faca e arremessou-a contra o homem com o bandolin. A adaga não o acertou, mas tirou-lhe o chapéu e prendeu-o contra a parede atrás dele. – O que você acha? – O rapaz perguntou, arrogante.
- Eu acho que você me deve um chapéu novo. – O tocador falou, parando de tocar seu bandolin.
- Nada mal. – O homem de armadura respondeu.
- O que? – Falla falou. – Só por que ele acertou o Bryant? Qualquer um acerta o Bryant, isso não é nada demais. Escuta aqui rapaz, as bruxas não vão ficar paradas esperando você acertar uma adaga nelas. Elas vão se mover e soltar maldições em você...
- Já é o bastante, Falla. – O homem a interrompeu. – A verdade é que podemos usar alguém com suas habilidades. Bem vindo aos Filhos do Sol, meu nome é Garland. – Ele estendeu a mão apara Alex.

.:V:.
- Você vai mesmo partir? – Mama perguntou na porta do quarto. Alex estava de pé, arrumando suas coisas em cima da cama. Ele não tinha muito, apenas uma velha mochila surrada, onde guardava suas ferramentas para abrir portas, um cantil vazio e uma corda. Em sua cintura, carregava duas facas, além daquela que levava sempre consigo. Colocou mais duas mudas de roupas.
- Eu preciso. – Disse olhando para a mulher que o havia criado desde muito pequeno. Todos aqueles anos antes, quando ele era pouco mais que um bebê, ela o havia encontrado e o criado como se fosse dela. – Eu não consigo explicar, mas acho que, se eu for, vou conseguir algumas respostas.
Mama fez que sim com a cabeça. Ela o conhecia melhor que qualquer um e, por isso, ele não precisava dizer quais respostas ele procurava. As perguntas eram sempre as mesmas, desde sempre. De onde ele vinha, quem eram seus pais e por que ele sentia-se tão diferente das demais crianças.
Não era só o fato dele ter orelhas pontudas, ou seus cabelos laranja com listras negras. Ele sentia-se diferente. Estava sempre atento ao seu redor, como se tivesse algum tipo de instinto de sobrevivência. Algo quase animal. Quando alguma coisa inesperada acontecia, Alex já estava agindo muito antes que as demais pessoas conseguissem entender o que estava acontecendo.
- Se você precisa mesmo ir, não vou impedi-lo. – Mama parecia triste. – Afinal, eu sempre soube que o dia chegaria em que você estaria velho o suficiente para ir embora. Mas, eu tenho algo que pode te ajudar.
Com um sinal para segui-la, ela guiou Alex até o seu quarto. Era um cômodo simples, com um colchão de palha no chão e um baú de madeira. O baú era a única coisa de algum valor que ela tinha e era sempre mantido trancado.
Alex não conseguiu conter sua surpresa quando Mama tirou uma chave de dentro de suas vestes e abriu o baú. – O que você está fazendo?
- Bob tinha 67 anos quando ele morreu. -  Ela começou a falar. – 67 anos trabalhando e ajudando todos os que o conheciam. Agora, tudo que resta dela está nesse baú. 67 anos de vida e história, reduzidos à um baú.
Ela tirou um livro de dentro do baú e o mostrou. – Um livro de anotações, onde ele anotava nosso pouco dinheiro e fazia cálculos sobre nossos gastos. – Ela explicou e voltou a colocar o livro no baú. Tirou, então, algumas roupas, uma camisa de pano verde com detalhes em branco. A roupa não era elegante, nem fabricada de um tecido fino, mas havia sido costurada para parecer uma roupa nobre. – Essa era a roupa que ele usou no dia em que nos casamos.
Depois que a roupa voltou ao baú, ela removeu um embrulho cumprido. – Aqui está. – Ela explicou, virando-se para Alex, abrindo o embrulho e revelando um pequeno arco. – Ele usava esse arco para caçar coelhos.
- Eu não posso aceitar. – Alex respondeu, nervoso.
- Ele não serve de nada aqui, juntando poeira. – Mama respondeu. – Além do mais, Bob ia querer que você o tivesse. Talvez você possa usá-lo para se alimentar também.
- Obrigado. – O meio elfo chorava, emocionado, enquanto pegava o arco.
Eles se abraçaram.

.:VI:.
- O quão bom você realmente é com essas facas? – Falla perguntou enquanto se aproximava de Alex. O meio elfo havia se juntado aos Filhos do Sol e partido com eles rumo a Rashemen. Aquela era a primeira noite e eles estavam montando acampamento. Alex estava terminando de acender a fogueira.
- Eu não já mostrei na taverna? – O rapaz perguntou.
- Mostre-me de novo. – Falla tinha um sorriso provocador no rosto.
- Tudo bem. – Alex sacou sua adaga e a segurou pela lâmina. – Onde quer que eu acerte? Que tal aquela folha amarelada?
Falla balançou a cabeça. – Folhas e chapéus ficam parados. – Ela respondeu. – Quero que você tente me acertar.
- Eu não vou te acertar. – O meio elfo respondeu, hesitante.
- Eu sei que você não vai me acertar. – Ela respondeu, arrogante. – Você não me acertaria nem se quisesse. Eu quero que você tente.
Disposto a tirar aquele sorriso do rosto de Falla, Alex arremessou a adaga na sua direção. A guerreira apenas deu um passo para o lado e a adaga passou voando, perdendo-se na escuridão. Sem que Alex conseguisse acompanhar com os olhos, Falla estava com uma espada na mão e em cima dele.
- Você pode até ser bom jogando essas suas facas. Mas o que você faz se não conseguir matar o inimigo com um arremesso? – Ela perguntou, segurando a lâmina de sua espada contra sua garganta. – Agora você está desarmado. E foi você mesmo quem jogou sua arma fora.
Tirando uma segunda adaga de seu cinto, Alex conseguiu empurrar a lâmina de Falla para o lado e saltar para trás, dando um mortal e caindo agachado há três metros dela. – É uma boa coisa que eu tenho mais delas, então.
- Nada mal. – A julgar pela voz dela, Alex diria até que ela estava impressionada. – Você é rápido tenho que admitir. Mas se você ficar pulando para cima e para baixo sem atingir seu inimigo, você vai acabar cansando. Vamos, mostre-me do que é capaz.
Alex saltou na direção de Falla, que usou sua lâmina para defender-se e depois deu um chute na parte de trás do joelho de Alex, fazendo-o cair de joelhos no chão.
- Não tente atacar com a sua força. – Ela explicou. – Você não tem nenhuma. Deixa isso para os grosseirões, como Garland ou Mordek. – Mordek, Alex descobrira mais cedo, era o nome do anão. – Você é mais leve e ágil e deve usar isso ao seu favor. Você deve usar a força de seu inimigo contra ele.
Então ela se afastou e apontou a espada para ele. – Vamos! Levante-se! De novo!

.:VII:.
Depois de uma semana de viagem, Alex estava com o corpo todo dolorido. Os músculos de seus braços e pernas doíam por causa do treinamento noturno rigoroso com Falla, e seu abdômen e costas estavam com grandes hematomas amarelados.
- Desse jeito, eu vou ter sorte se chegar à Rashemen. – Falou consigo mesmo numa noite enquanto arrumava suas coisas para dormir.
Algo moveu-se no canto dos seus olhos e, sem pensar, Alex desembainhou uma adaga e olhou naquela direção. Viu algo se movendo em uma moita e ficou surpreso ao ver uma gata cinza pular em sua direção. – Sombra? – Perguntou enquanto acariciava a cabeça da gata. O que você está fazendo aqui? Você me seguiu até aqui, menina?
- Ai. – Alex ouviu a voz atrás dele e se virou para dar de frente com Garland. O guerreiro vestia sua armadura pesada como se não fosse nada. – Isso deve ter doído.
- Um presentinho de Falla. – Alex respondeu, resmungando.
- Não se deixe intimidar. – O guerreiro respondeu. – Ela parece durona, mas tem um enorme coração.
- Acho difícil de acreditar. – O meio elfo respondeu, cético.
- Não, é sério. Eu vi. – O humano explicou. – Ela mantém ele em um jarro numa estante em sua casa. - Isso fez com que os dois rissem. – Não está conseguindo dormir?
Alex balançou a cabeça. – E você? Você parece nunca dormir. – Perguntou. De fato, desde que haviam partido, Alex nunca vira o guerreiro dormindo. Ele sempre estava de pé quando ele ia dormir e quando acordava.
Garland sentou-se ao lado de Alex e mostrou-lhe a mão direita, onde havia um anel dourado com detalhes verdes. – Está vendo este anel? – Quando Alex fez que sim com a cabeça, ele continuou. – Um amigo meu, um elfo, me deu há muitos anos. É um anel mágico, que fortalece meu corpo e me alimenta. Com ele eu não preciso comer nem beber água. E só durmo duas horas por noite.
- Ah, isso explica muita coisa. – O meio-elfo comentou.
- Mas, já que você não está conseguindo dormir, que tal conversarmos um pouco?  Ficar acordado sozinho a noite toda é um saco as vezes.
- Pode ser. – Alex respondeu.
- Por que você quis se juntar aos Filhos do Sol? – Garland perguntou.
- Não sei dizer. – Como Alex iria explicar? Ele tivera um sonho com o símbolo na armadura de Garland e achava que o sonho significava que deveria se juntar a eles. Alex não precisava falar aquilo em voz alta para saber o quando soaria louco. – Eu só sinto que é algo que eu preciso fazer, entende?
Garland fez que sim com a cabeça. – Talvez eu devesse fazer uma pergunta mais fácil. – Comentou. – Qual foi a dos pés descalços?
Depois da primeira pergunta, Alex não pôde deixar de rir com a simplicidade da segunda pergunta. Involuntariamente, olhou para os pés em contato com a grama. – Eu gosto de sentir meus pés no chão. Gosto de sentir a grama entre os dedos, e a areia. Faz eu me sentir como parte do mundo, entende?
Garland balançou a cabeça, pensativo. – Não, de fato não entendo. Você pode pisar em um caco de vidro ou qualquer coisa assim. Mas, eu já tive um amigo que era que nem você e ele falava a mesma coisa. –
O guerreiro parecia ter mais para falar, mas parou quando sacou sua espada e aparou o golpe de uma lança arremessada na sua direção. – Orcs! Estamos sendo atacados!
Com um salto para trás, Alex evitou de seu atingido por um machado que acertou o chão onde ele estivera há menos de um segundo. Sacando sua adaga rapidamente, o meio-elfo arremessou-a, acertando o ombro do atacante. O orc olhou para ele com fúria nos olhos e voltou a atacar, a adaga fazendo pouco para reduzir sua velocidade.
Alex abaixou-se, fazendo o machado passar por cima de sua cabeça em um golpe horizontal. Então ele uma cambalhota, evitando um novo golpe. Aproveitou para se afastar e, com um salto, pulou em cima do galho de uma árvore.
O orc deu um passo para trás e, pegando impulso, arremessou o seu enorme machado de combate. O machado atingiu a árvore em cheio e o impacto foi o suficiente para que Alex caísse no chão.
O inimigo aproximou-se dele, pegando o machado que estava cravado na árvore. Alex tentou levantar-se, mas sentiu uma dor insuportável na sua perna direita, na qual ele havia caído. Provavelmente estava quebrada.
O orc levantou o machado, pronto para um ataque, quando um vulto cinza pulou no seu rosto. Sombra estava me cima dele, arranhando o rosto e tirando sangue. O orc, desesperado, largou sua arma e começou a tentar agarrar a gata para arrancá-la de cima de si.
Com esforço, Alex se levantou e segurou o machado que o inimigo estivera brandindo. Nunca havia usado aquela arma antes, mas, distraído como estava, o orc não ofereceu resistência quando o meio-elfo acertou-lhe um golpe em cheio na cabeça.
Depois que o orc caiu morto aos seus pés, Alex avistou o restante dos Filhos do Sol. Morduk estava lutando com um orc e já havia dois mortos aos seus pés. Falla estava cercada por três inimigos, mas atacava com duas espadas e seus inimigos estavam cobertos de sangue enquanto ela não tinha nenhum ferimento.
Garland, por sua vez, parecia estava tendo dificuldades enfrentando aquele que parecia ser o líder dos orcs. Era um orc maior e mais forte, vestindo uma pesada armadura negra e com cara de mal. Ele brandia uma enorme clava de duas mãos e, com um golpe poderoso, quebrou a espada de Garland e o derrubou de costas no chão.
Alex precisava fazer alguma coisa, mas sua perna doía muito e ele sabia que jamais chegaria a tempo de ajudar o guerreiro. Decido, ele sacou seu arco curto e atirou uma flecha, acertando o orc inimigo em cheio na garganta. Sem acreditar no que estava acontecendo, o orc caiu no chão, morto.
O combate havia acabado.

.:VIII:.
- Obrigado, garoto. – Garland estendeu a mão para ele em agradecimento. Alex estava deitado enquanto Morluk fazia uma oração ao seu deus, a fim de curar sua perna quebrada. Os outros Filhos do Sol estavam terminando de arrumar o acampamento. Depois de terem sido atacados, eles não iriam mais passar a noite naquele lugar e, assim que Alex estivesse em condições de andar, eles iriam partir.
- Não foi nada. – Alex respondeu, envergonhado.
- Você salvou minha vida. Se isto não é algo demais, eu não sei o que é. – O humano respondeu. – Como ele vai ficar? – A pergunta foi para Morluk.
- Vai ficar bem. – O anão respondeu. – Estou cicatrizando o osso. Eu evitaria colocar todo o peso do meu corpo nesta perna por alguns dias, mas ele vai poder voltar a andar sem problemas.
- Que bom. – Garland sorria. – Tenho um presente pra você, garoto. Acho que você está pronto.
Com isso, revelou um embrulho, que entregou para Alex. O meio-elfo abriu o embrulho, revelando uma armadura de couro batido muito bonita, com o símbolo dos filhos do Sol no centro do peito. – Você agora é um de nós. – Ele comentou. – Parabéns.
- Garlard! Temos um prob...! – A voz de Bryant foi interrompida. O bardo estava de pé com a lâmina de uma espada saindo pelo meio de seu peito. Seus olhos, sempre atentos, agora olhavam para o nada.
Os orcs mortos haviam voltado a vida. Seus corpos mortos, animados por algum tipo de magia nefasta, haviam se levantado para um segundo combate. Falla já estava cercada, lutando com suas duas espadas de forma feroz.
- O que? – Mordek olhou em volta e removeu o símbolo de Moradim de seu cinto. – Mortos-vivos! Sintam a fúria divina de...
A voz do anão parou em sua garganta. Ele estava mudo. Esforçou-se para continuar a falar, mas nada saia.
- Um passarinho negro me disse. – Era uma voz de mulher. Uma voz velha, de quem já viu de tudo. Ela entrou na clareira onde o grupo estava, revelando-se uma mulher de aparência jovem, com um vestido negro e cabelos escuros como a noite. A voz fazia um contraste estranho, pois não combinava com a aparência jovem. – Que vocês acham que podem entrar em meu território e me matar. – Ela fez um movimento com a mão e falou umas palavras mágicas.
Mordek não gritou, pois estava mudo, mas o som de todos os seus ossos se partindo ecoou por toda a clareira. Em segundos, o anão estava morto. A essa altura, Falla já estava caída, com os orcs mortos-vivos comendo seu corpo.
- Morgana! – Garland gritou, desembainhando sua espada e investindo na direção da bruxa. Morgana fez um novo gesto da sua mão e arremessou o guerreiro para trás. Ele se chegou contra uma árvore, quebrando seu tronco.
- Que decepcionante. – A bruxa se aproximou. – E vocês achavam que podiam me vencer? Sério? Estou ofendida.
Com esforço, Alex se levantou e desembainhou sua adaga.
- Ah, tem mais um? – Morgana virou-se para o meio-elfo e ficou parada, boquiaberta. – Será possível? Você é igualzinho a ele....
- Do que você está falando? – Alex se aproximou, mancando.
- Nada. – A bruxa falou, se virando. – É seu dia de sorte, garoto.
- Ei! Eu reconheço a sua voz! – De fato, era a mesma voz que ele ouvia em seus sonhos. – Ei! Volte aqui!
Mas já era tarde demais. A bruxa havia sumido, bem como seus orcs mortos-vivos.
- Já é tarde demais pra mim, garoto. – Garland falou quando Alex se ajoelhou ao lado dele. O guerreiro havia sido empalado pelo tronco da árvore que quebrara e parecia estar nas ultimas. Estava muito pálido e com sangue para todo o lado.
- Não, você vai ficar bem. – Alex respondeu, tentando, em vão, estancar os ferimentos. – Você tem que se levantar. E ai a gente vai atrás da bruxa!
- Essa foi minha última caçada, garoto. – Com esforço. Garland tirou o anel de sua mão direita, o anel mágico que o mantinha descansado e alimentado o tempo todo. – Fique.
- Eu não posso aceitar. – Alex respondeu. – Você vai ficar bem e vai continuar usando ele.
- O meu amigo, que me deu esse anel todos aqueles anos atrás. Ele iria querer que você ficasse com ele.
Garland estava morto.

Epílogo
- Esperem aqui. – A mulher no balcão falou para eles e sumiu por uma porta.
- Tem certeza que esse é o lugar certo? – Um dos homens perguntou para o outro. No total, eram quatro, todos mercadores bem sucedidos. Outro homem fez que sim com a cabeça.
- Eu não sei se isso é uma boa ideia. – Um terceiro mercador comentou. – Eu ouvi histórias. Dizem por ai que ele é estranho.
- Estranho como? – O primeiro homem voltou a perguntar.
- Sei lá. Eu ouvi dizer que ele passou os últimos quatro anos vagando por Rashemen em busca de uma bruxa. – Foi a resposta. – E que é por isso que ele conhece essas terras tão bem. Dizem que ele enlouqueceu, e que ele fala com gatos.
- E também dizem que ele tem sangue de tritão e é capaz de passar cinco horas dentro d’água sem respirar. – O último mercador, que não havia falado nada até aquele momento, respondeu em um tom de escárnio. – Eu conheço as histórias sobre esse cara e são mais de cem. Você não pode acreditar em tudo o que falam.
- Mesmo assim... –
O primeiro mercador interrompeu-o. – Mesmo assim nada! Nós temos duas carroças de mercadoria que precisamos guiar através de Rashemen e precisamos e um guia. Com todos os perigos recentes, nós precisamos do melhor. E esse cara, ele é o melhor. Então nós vamos parar de falar de boatos e contratá-lo.
- Então, senhores. – A porta por onde a menina havia saído havia se aberto e um meio-elfo de cabelos laranjas com listras pretas estava de pé diante deles. Ele vestia um colete azul por cima de uma camisa branca e calças marrons. Seus pés descalços arrastavam pelo chão. Tinha algumas adagas presas no cinto, junto com uma aljava com algumas flechas. Ele tinha um sorriso no rosto que deixava os outros nervosos e olhava para eles quase como um tigre observando sua presa. – Ouvi dizer que vocês querem falar comigo.

Notas para o mestre:
Acho que as coisas ficaram bem claras no BG, mas caso não tenham ficado, lá vai alguns exclarecimento:
1- Oz é um elfo, membro de uma tribo com a capacidade de assumir uma forma felina. Ele é pai do meu personagem.
2- Morgana é mãe do meu personagem e Oz roubou o garoto dela quando ele era apenas um bebê.
3- Garland e Oz foram antigos companheiros de viagens e Oz deu ao Filho do Sol o anel de sustentação que agora está com meu char.

CharlieBrawJR

Mensagens : 14
Data de inscrição : 07/01/2013

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos