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Mensagem  andredmcampos Qua Abr 23, 2014 6:08 pm

Prólogo - Aquele que Não Foi

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O grande salão oval tinha imensas paredes de pedra clara e um pé direito extremamente alto, comparável a uma sala de reunião de um grande castelo. Aquela era realmente uma sala de reunião, mas aquele não era nenhum castelo, e sim um colégio. Circulando a sala pelas paredes estavam diversos estandartes, um representando cada uma das escolas de magia (O pano Azul com o símbolo de um escudo representava a abjuração, a escola de magia que se especializava na defesa; O pano branco com o símbolo de um olho representava a Arte da Adivinhação; O pano verde com o símbolo de um leão representava a conjuração, a arte de trazer à existência aquilo que não existia; O seguinte era um pano laranja com o desenho de um ser humano, representando a escola de Encantamentos, seguido por um pano Vermelho com um símbolo de fogo, representando a escola de evocação. Um pano amarelo sem desenho algum representava a ilusão. Um pano marrom com o desenho de uma garra representava a escola de Transmutação. Por fim, um pano roxo com o símbolo de uma caveira representava a necromancia) e um grande estandarte que representava a Academia Arcana.
Na sala, agora, sentavam-se oito pessoas, os sete grão-mestres, cada um responsável por uma escola de especialização, e o diretor da academia, ocupando a cadeira que ficava no centro da mesa oval no centro da sala. O assunto era dos mais amargos, a expulsão de um aluno. Aquele nunca era um debate agradável. Por longos momentos, o silêncio permeou a sala, enquanto nenhum deles tinha a coragem de começar o debate.
Orgarar era um meio-orc, e um dos raros ali, que havia se especializado nas magias de transmutação. Normalmente uma figura sorridente e serena, ele agora se encontrava cabisbaixo, olhando para as mãos entrepostas sobre a mesa. Era chamado “O Gigante Sorridente”, por ser talvez a maior pessoa da escola, com seus dois metros de altura. Tinha também um porte físico do qual poucos magos gozavam e uma habilidade com machados que era lendária na escola.
Ao lado do transmutador sentava-se Reinhardt, um mestre nas artes da evocação e das magias ofensivas. O humano era alto, ainda que não chegasse perto de Orgarar, e possuía longos cabelos castanhos correndo-lhe pelas costas, normalmente presos em um rabo de cavalo. Também possuía algum porte físico, mas, novamente, nem de perto tanto quanto Orgarar. Para ele aquele debate chegava a ser mais importante do que para os demais, pois ele era o principal tutor do jovem do qual se cogitava a expulsão. Talvez por isso tenha sido ele a quebrar o silêncio.
--O jovem é um prodígio, não há como negar isso!
--Esse é o problema! – a voz do mestre de encantamentos seguiu-se à de Reinhardt.
Lirhtel era um elfo dourado de longos cabelos brancos e porte altivo. Seus olhos azuis eram profundos e, muitas vezes, assustadores. O professor de encantamentos era tido como um dos mais poderosos magos da escola, não tanto pelo poder bruto que suas magias possuíam, mas porquê havia elevado suas habilidades de encantamento a um nível tão alto que jamais se ouvira falar em um aluno que houvesse conseguido resistir às suas habilidades em um teste de vontade. Mesmo entre os professores eram poucos os que conseguiam.
--Ele passou a última década ouvindo que era um prodígio, como queriam que ele não se tornasse arrogante?
--Arrogância não é um problema Lirthel, ou você não estaria lecionando aqui.
O disparate foi obra de Miriel, uma meio-elfa especialista em adivinhação. Ela era jovem para uma maga, ainda mais para uma que ascendera a uma posição tão elevada dentro da academia. Seus cabelos loiros caiam-lhe pelos ombros e seus olhos verdes desafiavam os Lirthel sem qualquer receio. Dentre os pouquíssimos professores capazes de superar o elfo em um teste de vontade estava Miriel.
--O problema foi o que essa arrogância causou.
--O que ele fez foi um acidente – rebateu Reinhardt – acidentes acontecem nas práticas arcanas.
--Eu aceito o raio como um acidente – dessa vez quem se pronunciou foi Marcus, o professor de abjuração – mas os golpes seguintes foram, decididamente, ego.
Marcus era um humano alto, de cabelos bem aparados e pose altiva. Ele carregava duas espadas na cintura e outras duas podiam ser vistas atrás de suas costas, ele era conhecido por ter conseguido misturar as habilidades de combate e magia e leva-las ambas a níveis elevados.
--Eu hei de convir com Reinhardt – dessa vez quem falou foi Maribelle – mas isso não quer dizer que o acidente foi menos grave.
Maribelle era a grã-mestra de conjuração, uma humana de idade avançada que possuía longos cabelos grisalhos cobrindo a cabeça e descendo até a altura de seus ombros. Seu ar sério raramente era quebrado.
Sergei, o halfling mestre de ilusão, permanecia mudo, abstendo-se da argumentação, apenas ouvindo e raciocinando consigo mesmo.
Normalmente o argumento seguinte seria proferido pelo grão-mestre de Necromancia, mas a escola carecia de um professor que ocupasse aquele posto há duas décadas, desde a Invocação Negra, onde quem ocupava o cargo errou na potência da magia e acabou por causar a morte de diversos alunos em uma das asas do colégio, que, desde então, ficava fechada.
Finalmente o pesado suspiro do diretor encerrou os debates. Allec era um senhor humano que provavelmente já vivera muito mais do que a longevidade humana normalmente permitiria. Seus olhos negros contrastando com a moldura branca de seu rosto, formada por longos cabelos brancos e uma barba alva bastante longa. Sua voz, rouca e um pouco lenta, era decisiva:
--Se foi ou não um acidente, não importa, ele desrespeitou as leis da academia e quase matou um dos outros alunos por seu acesso de ira. Um acesso que quase nos custou severamente. Ele deve ser expulso.

Do lado de fora da saleta, sentado em um pequeno banco de madeira, um elfo e cabelos castanhos e olhos de mesma cor aguardava sua sentença. Era bastante novo, e seu jeito cabisbaixo denotava pouca esperança. As grandes portas de madeira que o separavam do concílio que decidia seu futuro se abriram, e Reinhardt fora o primeiro a sair, dando um toque leve no ombro do ex-pupilo, mas sem conseguir sequer olhá-lo nos olhos. O diretor foi o próximo a sair, e seu olhar dispensava qualquer fala.
Ilmaré juntou as poucas coisas que tinha em sua posse e saiu da academia, sem coragem ou recursos para voltar para casa ou a qualquer lugar. Durante alguns dias ele vagou pela cidade, a tristeza aos poucos dando lugar à raiva, e então ao desespero. Conseguiu se hospedar em uma estalagem que ficava próxima a uma taverna, ao menos pelos primeiros dias, mas logo esse pequeno luxo lhe foi tomado. Ao ser repreendido por ficar em uma taverna sendo apenas uma criança, devolveu a queixa com uma magia elétrica de toque chocante, deixando uma marca no braço de seu repreensor. Mas o prodígio arcano nada sabia sobre o mundo, e suas magias de nada o ajudaram contra o soco na boca do estômago que se seguiu, fazendo com que cuspisse sangue. O que se seguiu foi pura crueldade, enquanto o agressor lhe ‘ensinava a não atacar os outros’ com um espancamento homérico que o elfo jamais esqueceria.
Naquele dia, e nos seguintes, ele dormiu na rua. Enquanto isso, no topo da academia arcana, Miriel olhava o horizonte. Reinhardt, atrás dela, questionava-se o que ela olhava.
--O futuro, o que nós criamos... O destino de um mago expulso se resume a um de dois. Ou ele desistirá em definitivo da magia, ou se tornará rancoroso e vingativo, e teremos que voltar a lidar com isso no futuro. Eu temo que o jovem Ilmaré tivesse talento demais para simplesmente abandonar a magia, ou ser abandonado por ela.
Naquele instante, do outro lado da cidade, Ilmaré estava desacordado depois de ter tomado diversos chutes e socos de seu agressor, consequência da surra que ficaria gravada em sua mente como a primeira vez em que ele sentiu verdadeiro ódio de alguém. Ódio que culminaria, dias depois, no primeiro assassinato do garoto, o primeiro passo de um caminho descendente e um tanto sombrio.
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Ilmaré - Background Empty Capítulo I - Sob a Sombra da Cidade

Mensagem  andredmcampos Sex Abr 25, 2014 11:49 am

A rua do comércio estava tão agitada quanto sempre fora, cercada das altas estruturas de pedras e coberta de diversas barraquinhas que vendiam os mais diversos tipos de produtos. "Pimentas de Anauroch" gritava um vendedor, "Frutas de Chult" retrucava o outro, "Ervas aromáticas de Thai", um terceiro acrescia à discussão. As pessoas se moviam em uma massa disforme de passos e esbarrões que por vezes fazia parecer que a rua como um todo era uma grande entidade indistinta, e que os transeuntes nada mais eram do que os efeitos do vento sobre os pelos da criatura. As ruas perpendiculares serviam como escoadouros, locais por onde as pessoas entravam e saíam do comércio, distribuindo seus transeuntes por toda a cidade. Escapar dos vendedores ambulantes era impossível: ora era necessário passar por baixo de um tapete trazido dos Vales, ora desviar-se de um vaso de cerâmica. à meia-altura da rua comercial havia uma pequena pracinha, onde convergiam também diversas outras ruas. Lá era onde ficavam as principais tavernas e estalagens da cidade. A fonte no meio da pracinha era um ponto de encontro comum, e uma das ruas à direita, mais larga que as demais, tinha uma pequena escada que ia levar para o distrito do castelo. Mas a rua onde essa história continua não é a Rua Real, mas uma pequena ruela do lado, que levava para um beco onde uma garota elfa esperava aflita.

Ildaren tinha cabelos brancos e olhos de mesma cor, além da pele bastante clara. Mantinha os cabelos bem aparados e usava roupas folgadas de pano simples, o que faziam com que muitas vezes ela parecesse um menino excessivamente desarrumado do que uma menina. Um pouco mais fundo no beco um menino elfo estava sentado, com um manto que outrora deveria ter sido nobre, agora surrado e desleixado. Ele olhava para fora do beco, também ansioso. Nenhum dos dois presentes falava nada, apenas aguardava. A tensão no ambiente quase poderia ser cortada por uma faca. Ela se desfez facilmente, entretanto, quando um outro garoto chegou correndo. Era um humano, não teria seus treze verões completos. Seus cabelos eram marrons e bem aparados, seus olhos de um castanho escuro. A pele era clara como a dos outros dois, mas o porte físico era um pouco melhor. O garoto se dobrou sobre suas pernas, apoiando as mãos em seus cotovelos, arfando. Demorou alguns segundos até olhar para os dois amigos com um sorriso no rosto. Sacou um pequeno saquinho de moedas que foi comemorado pelos três, e com a outra mão jogou um filão de pão para Ilmaré.

Os três voltaram conversando enquanto caminhavam, e Ilmaré misturava palavras com nacos de pão na boca. As outras crianças no esconderijo ficariam bastante felizes, dessa vez Michael havia conseguido roubar uma bolsa gorda, deveriam haver ao menos umas cinco peças de ouro ali, se somados... Mas o trabalho de somar ficaria com Ilmaré, que era o único do bando que tinha algum estudo. O jovem elfo precisou de ajuda dos outros dois para escalar o pequeno andaime abandonado que haviam montado quando os planos de restaurar o templo de Selûne ainda estava em vigor. Quando a ideia foi abandonada em prol do altar que erigiram à deusa numa charneca próxima, a reforma fora abandonada, e também o templo como um todo. Depois de subir o pequeno andaime, atravessaram um pequeno buraco na parede que havia sido deixado quando uma das janelas cedera durante uma tempestade. Uma vez lá dentro, apoiaram-se nos ombros da deusa e escorregaram por seu braço, pulando da mão para o sínodo e do sínodo para o altar, até finalmente chegarem ao chão novamente. Dois dos outros garotos estavam lá na nave da igreja, os outros deveriam estar para dentro, muitos deles dormindo, como acontecia nas manhãs mais preguiçosas.

Os ecos de passos e risos na nave acabaram por trazer alguns dos que ainda estavam acordados para perto do pequeno grupo. Ilmaré pegou a pequena bolsinha de couro e foi sentar-se num banquinho de pedra lá perto para contar as moedas. Dentre o tilintar das peças e o remexer da pequena bolsa de dinheiro, um estranho volume se encontrava. Um embrulho em pano escuro fechado com um pequeno cordão dourado. O mago mirim rapidamente desfez o nó e abriu o embrulho para vislumbrar o que havia lá dentro, e deparou-se com uma pequena pedra, não maior do que o dedo mínimo de alguns deles, semi transparente, com suaves tonalidades amareladas. Um feixe de luz bateu na pedra e foi refletido, como um pequeno raio de Sol se estilhaçasse e desfizesse em uma miríade de fractais dançando nas paredes do templo abandonado. A pequena joia despertou o interesse de todos, principalmente de Ildaren.

Ela praticamente pegou a pedra das mãos de Ilmaré e ficou a observá-la. Resignado, o elfo tornou a contar as moedas. Treze moedas de ouro, uma verdadeira fortuna para as crianças. Depois de juntá-las à caixa de madeira onde ficavam as outras moedas que já haviam juntado, controladas pela elfa Ildaren, eles se reuniram para que os três fossem contar sobre suas aventuras aos demais.As pequenas histórias eram sempre aumentadas para parecerem mais emocionantes, mas a verdade é que quem sempre acabava ficando com a ribalta era Michael, que era quem protagonizava os roubos. Era estranho como roubar não parecia errado, mas, a bem da verdade, aquela era a única maneira que eles haviam achado de sobreviver.

Depois daquela conversa habitual, Ildaren pegava um pouco do dinheiro que juntavam para ir ao mercado e providenciar comida decente para eles. A garota, dentre todos, era a mais carismática e quem menos levantava suspeitas. Ademais, havia uma senhora no mercado que a conhecia e sempre a tratava muito bem, por vezes dando a ela mais comida do que ela realmente poderia comprar, pois já a vira cuidando dos outros e achava que aquela era uma forma de ajudar sem intervir.

Com cada um cuidando de suas atividades, Ilmaré decidiu caminhar pelo templo até que a garota voltasse para cuidar do almoço deles. As vezes, explorando o local, eles descobriam uma parte que estivera lacrada, mas que cedera, e que revelava um novo local ainda não descoberto. Nunca se atreviam a ir muito fundo, por já ter ouvido barulhos estranhos por trás ou por baixo de algumas entradas.

Quando passava pela frente do quarto de Ildaren, o elfo olhou para a pequena mesinha de cabeceira onde ela deixava suas coisas. Poderia ter jurado ver a elfa colocar a pedra amarela brilhante lá, mas agora não a vislumbrava em qualquer lugar. Bem, provavelmente ela só havia guardado a pedra em outro lugar, não haveria de ser nada. Sacudiu a ideia da cabeça e continuou a andar, só tornando a se preocupar com isso quando já havia passado meia hora e a garota ainda não havia retornado. Ele e Michael decidiram ir atrás dela, seguindo o caminho que ela fazia até o mercado.

Eles já haviam percorrido o mercado quase inteiro quando ouviram seu grito, em um beco próximo. Foram correndo naquela direção, apenas para verem dois sujeitos mal encarados, vestidos com armaduras negras. Um deles a segurava pelo pescoço contra a parede, enquanto o outro manuseava a joia amarela, interessado. Michael iniciou um avanço com uma pequena faca que ele possuía para emergências, enquanto Ilmaré conjurava palavras arcanas e movia seus braços em gestos circulares. As palavras arcanas saíram com irritação de seus lábios, culminando em um raio vermelho flamejante saindo de suas mãos estendidas diante do corpo. O homem que segurava Ildaren pelo pescoço tomou o raio em cheio, largando-a e cambaleando para o lado, enquanto o outro se virava um segundo atrasado, recebendo um corte da faca de Michael que fê-lo sangrar na dobra do joelho, derrubando-o de joelhos no chão e fazendo com que soltasse a pedra.

De repente, aos olhos de Ilmaré, tudo pareceu acontecer como se o tempo estivesse desacelerando. Ildaren pegou a pedra amarela e começou a correr na direção dos dois amigos; o homem que ele havia acertado o raio irrompeu em chamas, gritando. O outro homem sacou uma espada e começou a correr atrás da pequena elfa que escapara dele. E então a pedra amarela começou a emitir um brilho forte na mão de Ildaren, que se virou para os inimigos com um brilho amarelo nos olhos. Ela estendeu a mão para frente enquanto recitava palavras do poder, do tipo que Ilmaré nunca havia visto antes senão durante as aulas de Reinhardt. Palavras de poder extremamente fortes, que torciam as fibras da realidades em nodos que o pequeno elfo ainda sequer podia sonhar em fazer. Quando ela terminou de proferir as palavras, duas lanças completamente compostas de eletricidade surgiram ao redor da garota e voaram em direção aos dois captores, atravessando-os sem que eles tivessem sequer tempo de gritar de dor. Dois corpos mortos caíram no chão após aquele golpe, e uma Ildaren assustada recobrou os sentidos. Aquela era uma história que nunca foi contada para as demais crianças.

Dois dias depois, ninguém entendeu quando Ilmaré desapareceu com a misteriosa pedra. O fato é que o elfo nunca esquecera a surra que havia tomado no dia em que foi expulso do colégio, e já havia alguns dias que ele havia descoberto o paradeiro do autor da dita surra. Ilmaré não havia desejado vingança, ao menos não até o dia em que tirou a pedra das mãos de Ildaren e começou a deixá-la guardada em seu quarto, pois a garota estava apavorada com ela. Mas a pedra começou a nublar seu julgamento, e agora ele estava na calada da noite derrubando uma pesada porta de madeira na entrada da casa de um nobre da cidade. O homem o reconheceu, e começou a avançar em sua direção, mas um raio sobre sua cabeça o fez recuar. O raio foi seguido de duas lanças elétricas que o atravessaram. Ele só parou de atacar o agora cadáver quando percebeu que sua esposa e filha estavam agaixadas atrás da mesa, apavoradas com aquela cena toda. Por mais que o coração do jovem elfo se dilacerasse com aquilo, a pedra nublava sua mente, dizendo para não deixar testemunhas. Enviar um raio para matar a mãe foi tarefa fácil, mas a garota simplesmente correu na direção do pai, abraçando seu cadáver. A pedra dizia para terminar o serviço, mas a garota era uma humana de não mais que dez anos, e dessa vez a vontade do elfo venceu a da pedra. Ele estava horrorizado demais para ficar olhando para aquela cena, e simplesmente saiu correndo, lágrimas escorrendo dos olhos. Precisava voltar ao templo de Selûne, precisava fugir, não sabia mais do que precisava. Precisava se ver livre daquela sensação, e no momento aquilo era tudo.

Quando chegou ao templo, entretanto, deparou-se com portas abertas... Portas, bloqueadas desde o início da reforma, agora abertas. Sentiu que algo estava errado e entrou no templo. Quatro das crianças estavam caídas ao lado dos bancos de pedra, os corpos completamente brancos e sem vida. Perto do altar, Michael, com sua pequena faca, prostrava-se entre Ildaren e um estranho sujeito de vestes negras. Ilmaré urrou enquanto o poder da pedra novamente o consumia, recitando palavras arcanas, pronto para lançar a magia mais forte que a pedra tivesse à disposição, mas rápidas palavras arcanas vieram do misterioso encapuzado. A lança elétrica saiu das mãos de Ilmaré em direção ao sujeito apenas para se desviar quando chegava perto, voltar em sua direção e atravessar seu peito, fazendo com que o garoto cuspisse sangue e caísse de joelhos no chão. A dor consumia todo o seu corpo. Ele se recusou a desistir e arremessou a segunda lança, que dessa vez voltou em seu estômago, o trespassando. Sua visão começou a nublar, e seu corpo parou de responder. Ele apenas viu o estranho sujeito indo em sua direção a passos calmos e lentos recitando palavras de poder. O encapuzado tocou sua testa ao final das palavras de poder, e então uma dor aguda percorreu todo o corpo do jovem elfo. Seu grito de agonia ecoou por todo o templo e pode ser ouvido na vizinhança, e então ele desmaiou.

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Os olhos de Ilmaré foram pouco a pouco se acostumando com a luminosidade do local, mas sua cabeça parecia ter sido arrancada e recolocada de volta da maneira errada. Tentou olhar ao seu redor, mas ao virar o corpo, sentiu uma fisgada nas costelas onde havia sido atingido. Percebeu, também, que suas mãos e braços pareciam não se mover. Tomou conhecimento de sua situação: grossas tiras de couro prendiam seus pés e suas mãos, de modo que não podia se mexer. Olhou ao redor, com movimentos leves para não tornar a sentir a dor causada por aquele estranho homem. Viu que estava preso a uma estrutura de madeira em "X". Ao seu lado direito viu Ildaren na mesma situação que ele, mas a garota ainda não parecia ter despertado. Olhou para a esquerda, esperando ver Michael, mas viu apenas longas fileiras de estantes de livros. O local, de um modo geral, parecia um grande laboratório arcano. À sua frente, em uma longa mesa de pedra, viu uma figura jogada, mas a baixa luminosidade não o permitiu ver de quem se tratava. Espremeu os olhos para tentar ver melhor, chegando até a forçar a cabeça para frente. Quando percebeu de quem se tratava, a cor sumiu de seu rosto.

---MICHAEL! - gritou, exasperado.

O grito fora o suficiente para acordar Ildaren, ao seu lado, que após olhar ao redor e perceber a situação, teve uma reação similar. O garoto humano, entretanto, não acordou. Os dois elfos decidiram que teriam que dar um jeito de fugir dali, mas nenhuma maneira parecia se apresentar. E então, uma voz veio de trás deles:

--Ora, ora, poupem seus esforços. Vocês não vão sair daí, e ninguém de fora vai vir atrás de vocês. Vocês são o lixo que a sociedade jogou fora, não tem escapatória. Mas não se aflijam, não, por favor, o Corvo vai cuidar de vocês, o Corvo vai torná-los... Fortes.

Após isso, a figura de mantos negros surgiu por entre os dois e passou reto, em direção à mesa, com a pedra amarela dançando em seus dedos e um sorriso sinistro em seu rosto. Forçou Michael a abrir a boca e inseriu a pedra amarela dentro dela, fechando-a e tapando nariz e boca para forçá-lo a engolir ao mesmo tempo que acordava.

--Vejam!

Ilmaré ficou completamente assombrado pela atitude, Ildaren gritou. O "Corvo", entretanto, apenas ergueu a voz acima dela dizendo.

--Não se preocupe, garota, se ele for fraco demais para ser uma Selu'kiira, a próxima será você.

Naquele momento, o corpo de Michael começou a brilhar em um amarelo intenso e soltar faíscas, que rapidamente se transformaram em eletricidade. Antes que notassem, o garoto humano era eletricidade pura, uma criatura feita de raios. Raios esses que começaram a correr pela sala, acertando paredes e queimando livros, orquestrados pelas risadas de Corvo. Um dos raios, por sorte ou acaso, entretanto, acertou a tira de couro que prendia uma das mãos de Ildaren, que conseguiu se soltar graças a isso, soltando Ilmaré em seguida. Eles estavam prestes a sair correndo quando a voz d'o Corvo ecoou na biblioteca.

--Pegue-os!

Os olhos de Ilmaré se arregalaram quando ele viu a criatura de eletricidade partindo para cima dele, mas sua mente agiu rápido. Começou a recitar as palavras arcanas mais fortes que conhecia, quase gritando, enquanto realizava gestos arcanos, e então, Michael estava sobre si!
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Ilmaré - Background Empty Capítulo II - Batalha de Ódio

Mensagem  andredmcampos Sáb Abr 26, 2014 12:39 am

Reinhardt percorria os corredores da academia arcana com sua bengala de madeira, supervisionando a academia. Ele se lembrava de quando chegara lá, um simples evocador desejando lecionar na academia. Céus aquilo fazia tanto tempo. Agora não tinha mais o corpo que cultivara nos anos de sua juventude. Tinha os mesmos ideais de outrora, mas seus joelhos doíam. Estava velho. Muito velho. Não tardaria teria que passar o bastão da diretoria para alguém, da mesma forma que Allec o fizera quando começou a sentir os dedos gélidos da morte sobre si. Tantos alunos tinham vindo e ido embora, tanta coisa havia mudado na academia que ela quase parecia uma escola completamente diferente de quando assumira. Entretanto, a Asa Oeste continuava lacrada, e a vaga de grão-mestre de necromancia continuava vaga. Ao menos havia conseguido preencher com sucesso a vaga de Grã-Mestra de Evocação. Lidânia era não mais que uma garota, e não era nem próxima de um prodígio, mas seu esforço a havia feito superar qualquer prodígio que a escola pudesse oferecer. Infelizmente ela não tinha tempo o suficiente de casa para se tornar uma diretora respeitada, mas que isso seria uma opção e tanto, isso seria.

Foi naquele momento de devaneio que sentiu uma energia muito forte adentrar a escola. Não fora só ele, a Grã-Mestra de Adivinhação e o Grão-Mestre de Transmutação estavam ao seu lado em poucos segundos, e todos eles parados diante de algo que só poderia significar más notícias: O selo arcano que impedia a entrada na Ala Oeste estava arrebentado, e um vento gélido vinha de dentro dela. Eles estavam prestes a correr para dentro dela quando uma voz atrás deles os fez interromper o passo por um segundo. Um dos principais alunos de Conjuração, Mithramar, um elfo dourado, conjurava as palavras arcanas de uma invocação, e ele não parecia estar se dispondo a ajudar os três mestres. Até porque aquela palavra era mais poderosa do que qualquer uma que o Grão-Mestre de Conjuração se lembrava de tê-lo ensinado. E foi justamente o surgimento dos outros grão-mestres que impediu que aquele aluno fosse um retardo. O grão-mestre de conjuração ficou para trás, alegando que ainda tinha uma última lição a ensinar àquele aluno.

Entraram pelos corredores velhos, abandonados e sombrios, e outros cinco surgiram para tentar interrompê-los. Os cinco eram alunos elfos que aparentemente haviam ganhado força instantaneamente... Ou isso ou estavam escondendo suas reais habilidades, o que era bem mais provável. No fim do corredor, defronte a entrada da torre de necromancia, restavam apenas Reinhardt e Lidânia. Os dois adentraram a torre, apenas para encontrarem duas figuras diante de si. Uma delas era uma pessoa misteriosa, de manto negro e capuz negro. Reinhardt conhecia aquela figura, estava na escola quando ele causara o acidente.

--Vignar...

Vignar fora grão-mestre de necromancia muito tempo atrás naquela escola, um elfo de habilidades ímpares cujo interesse pela morte só superava em intensidade o interesse que tinha por combater os desmortos gerados pela necromancia. Vignar havia sido o primeiro professor expulso da escola.

A figura ao lado do ex-grão-mestre era um elfo de pele clara, jovem, com um cabelo que parecia uma luta entre branco e castanho. Era branco no centro, e conforme avançava para as bordas, se tornava castanho. O ar sério e os olhos fechados impediram que Reinhardt o reconhecesse a princípio, mas então o jovem elfo abriu os olhos, e faíscas de eletricidade saíram dele. Reinhardt reconheceu o pupilo que havia sido expulso tanto tempo atrás.

--Ilmaré?

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Quando Michael avançara para cima dos dois amigos, Ilmaré havia se colocado na frente de Ildaren para que ela escapasse, confrontando o amigo humano. Quando as mãos se chocaram, o elfo perdeu a magia que tentava conjurar. Mais do que isso, uma onda de choque percorreu-lhe todo o corpo, que só foi interrompida por uma onda de dor quando o joelho-elétrico acertou-lhe a barriga. Um soco na cara quase o derrubou, o que só não aconteceu por causa de um gancho elétrico que o tirou do chão. O amigo-elétrico então girou o corpo e acertou-lhe um chute nas costelas que o arremessou contra a parede. Depois disso, foi uma surra. Quando Michael terminou, Ilmaré estava quase morto. Antes que conseguisse matá-lo, entretanto, Michael recobrou o controle. O amigo começou a transferir toda a sua energia para o elfo para que ele ficasse vivo, e, graças ao poder da Selu'kiira, a jóia élfica, aquilo acabou por fundí-los. A Selu'kiira floresceu o ódio em um frágil Ilmaré, e daí por diante foi fácil para o Corvo controlá-lo.
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O necromante mandou que Ilmaré fosse adiante resgatar o item que precisava enquanto ele ficaria para trás para segurar os dois, e assim o elfo cinzento o fez, mas Lidânia rapidamente se transportou para ficar entre a porta de o elfo, seu rosto contorcido de raiva. O elfo a olhou nos olhos com um olhar triste, sem entender muito bem o que se passava.

--Você pode estar diferente, mas eu o reconheceria em qualquer lugar!

A frase da humana soou estranha, e quando ela começou a recitar as palavras arcanas de poder, o elfo a olhou de cima a baixo. Era uma imagem distante, mas ele parecia conhecê-la de algum lugar. Enquanto os dois trocavam magias ofensivas, o elfo começou a tentar entender de onde a vira, e foi então que lhe atingiu. Lembrou-se de quando fora matar aquele homem que o espancara e de sua esposa, lembrou da filha do casal, que deixara viva, e então a imagem da garota voltou à mente. Ela havia crescido, o tempo havia se passado, mas era a mesma garota. Ela aparentemente havia decidido dominar a magia para se vingar. Naquele momento, um lampejo de consciência tomou seu corpo, pela primeira vez em anos, a consciência de Ilmaré parecia resistir ao domínio da Selu'kiira, mas aquilo se foi tão rápido quanto veio, quando um raio flamejante o atingiu no peito. A figura que se levantou não fora a mesma que tombara.

Os cabelos do elfo estavam completamente brancos e arrepiados, seus olhos estavam tomados de uma tonalidade entre o branco e o amarelo, e arcos elétricos saíam de seu corpo. Suas mãos e pés estavam completamente cobertas de energia elétrica. Ele estendeu as mãos e lançou um raio em direção a Lidânia, pronto para matá-la, mas a elfa desviou-se e revidou com um raio ardente, que o elfo elétrico prontamente evitou. A batalha, em alguns momentos, parecia estar equilibrada, mas a vantagem é que Lidânia estava levando clara vantagem. Ela treinara anos apenas para enfrentá-lo, para combater aquilo que estava em sua frente naquele momento. E assim, quando as forças de Ilmaré acabaram, ele experimentou a amargura da derrota. Tanto ele quanto o Corvo conseguiram fugir, mas o resto dos Caçadores Élficos que eles haviam formado acabou ficando para trás e sendo aprisionados. Daquela forma, a primeira tentativa de Corvo de fazer uma Selu'kiira viva havia falhado, e as tentativas seguintes continuariam a falhar até alguns séculos depois, quando ele cruzaria com um fatídico gnomo que se tornaria a rocha perfeita, mas que infelizmente sairia do seu controle.

Mas isso é outra história, a história de Selu, o Gnomo Ilusionista.
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Ilmaré - Background Empty Capítulo III - Sangue no Deserto

Mensagem  andredmcampos Sáb Abr 26, 2014 3:17 pm

O estranho grupo que caminhava pelas ruas de Águas Profundas era, no mínimo, único. A maioria deles tinham a aparência de alguma espécie de bárbaro violento, com armas expostas e músculos tanto quanto. Quem encabeçava a comitiva, no entanto, era um elfo com um tanto de pose. Tinha cabelos compridos, brancos, presos em diversas pequena tranças. Seus olhos eram brancos, sua pele, clara, e seu corpo, ainda que um pouco musculoso, era esguio perto daqueles que o acompanhavam. Seu torso ficava completamente exposto, e diversas runas poderiam ser vistas desenhadas eu seu tórax e ombros. Aquele grupo, na verdade, era um tanto conhecido e temido entre as academias arcanas. Eles invadiam diversas academias arcanas e templos para roubar seus artefatos, deixando um rastro de sangue por onde passavam. Eles eram chamados de Reis Bárbaros, e seu líder e fundador era um elfo capaz de dominar magias elétricas como poucos. Seu nome: Ilmaré.

Depois de ser derrotado por Lidânia, o elfo percebeu que tentar invadir uma academia arcana só com magos era um pedido para o fracasso. Com a personalidade de Ilmaré e da Selu'kiira cada vez mais fundidas, o elfo se desvencilhara d'O Corvo e fundara um grupo de saqueadores bárbaros sediados no Deserto de Anauroch. Os Reis Bárbaros, eram seu nome, e cada um adotava uma cor. Ilmaré, o líder, era conhecido internamente como o Rei Branco.

Dessa vez o elfo não fizera qualquer questão de ser discreto, simplesmente chegara arrombando a porta da academia a instaurando o caos lá dentro. Dessa vez nem Lidânia foi suficiente para impedir o grupo de chegar ao Tomo Negro, mas ela se assegurou de enviar uma experiente maga de abjuração para protegê-lo, tirá-lo dali e levá-lo ao antigo templo de Selûne. Ilmaré não viu a dita maga, mas achou Lidânia uma tola por dar aquela ordem em voz alta. Rapidamente deixou os outros bárbaros e foi em direção ao templo. Aquele templo trazia a ele certas lembranças, certas memórias de um tempo que se fora, mas agora seu espírito era um com o artefato arcano e nada o faria voltar atrás em sua busca por poder, ou ao menos assim ele achava.

Adentrando o templo, o elfo prontamente enviou um raio em direção às costas da guardiã do tomo, mas ela se virou e defendeu, encarando-o.

E então, subitamente, eram crianças novamente. Só que dessa vez Ilmaré é quem estava com a pedra amarela, e Ildaren é quem achava que ela não deveria ficar com ele. A garota abraçava o livro com força, mas seus olhos eram tristes. Lá estavam, novamente, os dois, sob o olhar atento de Selûne. Naquele momento os olhos de Ilmaré perderam o tom amarelado, mas seus cabelos continuaram brancos. Pela primeira vez no que pareciam séculos, o elfo recobrara a consciência. Lidânia acabou derrotando os Reis Bárbaros, mas nem ela era forte o suficiente para matar mais do que dois deles, de modo que os outros fugiram. Ilmaré nunca mais voltou ao ponto de encontro do bando.

Na verdade, no ano seguinte Lidânia foi a madrinha de casamento de Ilmaré e Ildaren, e fez questão de convidar um Ilmaré livre do domínio da rocha, mas ainda com seu poder, a ser o novo Grão-Mestre de Evocação da Academia Arcana de Myth Drannor, cargo que ele aceitou com muito prazer. Com isso, o elfo reestabeleceu a família que havia se perdido quando fora expulso da escola, a família Tellumar, uma família pequena, de fato, mas que ele acreditava que ainda iria crescer muito.

Erulómë, filho do casal, nasceu alguns anos depois, herdando as raras características de Elfo Estelar da mãe. Foi a primeira vez que o elfo viu a tal pedra que a raça havia construído para quando precisassem fugir de Faerûn.

Com o tempo, sua posição foi ganhando destaque na Academia Arcana, e logo um de seus discípulos pessoais ascendia ao trono de Grão Mestre de Necromancia. Mal sabia que seria o tutor de seu próprio filho em um futuro distante.

Assim, a vida foi seguindo. Tendo criado inimigos por todo canto, Ilmaré ainda se via em necessidade, vez por outra, de usar o poder da pedra, mas, quando podia, evitava, e resolvia as coisas com diplomacia. De um modo geral, sua vida prosseguiu em paz.

Mas nenhuma paz é duradoura, e uma sombra negra se avizinhava, uma sombra da qual poucos escapariam...
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